O real do envelhecer, tem me fustigado nesses últimos tempos. Por mais que me utilize de máscaras que possam atenuá-lo, este insiste em me provocar , descortinando as ilusões de uma tentativa de encobrir marcas aí contidas. É um novo que vislumbro nas faces de meus pais, quando neles me percebo.
Não basta cobrir os cabelos grisalhos com tintas acobreadas..., besuntar rostos, braços e pernas com cremes que prometem rejuvenescer, incorporar a atividade física como complemento do café da manhã, o envelhecer tens leis próprias, limites bem definidos que por mais que se negue, se impõe e realiza sua intervenção em nosso corpo, em nossa imagem no que equivocadamente é percebido só no Outro.
Outro dia, uma pessoa amiga, relatou-me o desapontamento por descobrir, junto aos seus pares, que já não tem a mesma facilidade de acessar de memória, informações profissionais guardadas, com a mesma precisão de detalhes, que o fazia detentor de um certo poder em sua equipe de trabalho, "...Ando cansado, com o rasciocínio mais lento, minha cabeça já não me acompanha, o escritório a mil e eu assim!!...."
Comparece através da resistência declarada, de um não saber, do como lidar com o "ócio" de uma pretensa aposentadoria, considerando, ainda ter um corpo prioritariamente adestrado para o trabalho e adormecido para outras possibilidades. " O que vou fazer de minha vida! Eu sempre trabalhei...."
"Falar da velhice incomoda porque expõe o limite ao qual todos nós somos submetidos. Falar da velhice desacomoda, exigindo certa acomodação dos traços e dos restos advindos pelas perdas, pelas mudanças da imagem e na relação com o Outro. A velhice exige novas transcrições e traduções. Ela desacomoda muitos "restos" deixados em qualquer canto à espera de um tratamento possível; desacomoda a procrastinação, desacomoda os futuros não cumprindos - mas que gostaríamos de realizar -, desacomoda a idéia de imutabilidade ou de permanência, desacomoda os ideais e as certezas nas quais todo sujeito busca se alojar. A velhice desacomoda, incomoda, principalmente nesse mundo permeado de máscara do novo." Musida, Ângela - "O Sugeito não envelhece - Psicanálise e velhice". (2006, p.16)
Assim o é!...
Envelhecer para quem se aventura, é vida!
Desafiante aventura com um fim estabelecido!
Aventuro-me! Vivo.