Desta vez o encontro marcado, após 34 (trinta e quatro) anos depois! Sim, trinta e quatro anos depois, se deu na casa de Mirian Cardoso.
Quando lá cheguei, Elias, Heraldo com a Fátima, Zé com a Márcia já se encontravam na sala de jantar, sentados ao redor de uma mesa, em seguida chegou a Elisiária, sem suas irmãs..., que em ausência, presentes estavam, bem como a Vilma que fora à festa junina de sua netinha, a Vandira e o Carlos, o Adilson; o Paulo que mudara para outro estado; a Ísis que não estava muito bem; o Cleber Maciel e o Samuca já falecidos, os moradores do Morro do Quadro que perdemos o contato, os primeiros estudantes africanos que na UFES aportaram..., nossos familiares e muitas outras pessoas, todas devidamente reverenciadas como partícipes de um dado tempo de uma história instituída.
Na tarde, "vitrola" ops! DVDs rolando, tocando sambas de máxima qualidade sem parar!!! Pixinguinha, Clementina de Jesus, João Nogueira, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara... à Diogo Nogueira! Senti no peito, uma forte emoção, uma alegria quase juvenil por reencontrá-los, de poder abraçá-los e beijá-los com o afeto espontaneo de quem já consegue melhor externá-los.
Foram logo me avisando, destas vez o nosso encontro vai ser aqui mesmo, apontando-me uma cadeira em volta de uma mesa redonda da sala de jantar da residência da Mirian, que fica num prédio de Bairro de classe média, o que rimos gostosamente, pois toda fala naquele momento tinha um sentido, o de nos remeter de imediato ao um tempo vivido. O de quando nos reuniámos nas lajes das casas e quintais dos Bairros da Vila Rubim, Consolação, Santo Antônio, Santa Teresa, Morro do Quadro..., nos idos de 1978/79/80..., para então exercitarmos o contato com a nossa auteridade de negros e negras capixabas, através da militância no MNU - Movimento Negro Unificado.
Animadamente a conversa rolou solta, entre um pé-dé-moleque e outro, uma fatia de cuscuz, um minguau de tapioca, um caldinho de pinto na pimenta, uma torta de bacalhau, um bom vinho, sucos e paçoquinhas, permitindo-nos transgredir, somente por um dia, as recomendações médicas, que ora fazem parte de nossas cartilhas do bem viver, rsrsr!...
Nos reportamos aonde tudo começou, a nossa inserção no espaço acadêmico da UFES - Universidade Federal do Espírito Santo, negros num universo eminente de brancos. O como fomos nos encontrando, na busca identificatória de sobrevivência, frente a poucos iguais e muitas adiversidades.
Destacando-se em cada relato, as lembranças da contribuição significativa do professor Cleber Maciel, negro assumido que após ter concluido seu mestrado em História na Universidade de Campinas, retornou à catédra na UFES e generosamente partilhava o seu saber, seus livros seus discos, sua casa, a sua pasciência para acolher-nos em nossos estranhamentos, frente a um real fragmentado e desafiante, que nos equivocava, mas não o suficiente para abrirmos mãos de estar estudante nos cursos da UFES.
Rememoramos as nossas histórias pessoais, revisitando a casa de nossos pais, valorizamo-os pelo investimento afetivo e materiais recebidos destes. Revalidando a matriz, filhos e filhas de trabalhadores que somos, que dentre os muitos legados recebidos o de acesso aos estudos, constitui de alicerce determinante em nossas vidas. Legado este que de forma amorosa e incondicional, tem sido repassado aos nossos filhos e filhas.
Sim, foi um belo, oportuno e feliz encontro, que em seu termino, prometemos repeti-lo o mais breve possível, para manter a quebra da escrita dos trinta e quatro anos que ficamos sem nos encontrar, pois constatamos que ainda temos muito o que falar e escutar!
Que assim seja!...