domingo, 5 de agosto de 2012

Coisas de mãe!

Estava eu mais uma vez no aeroporto de Vitória, aguardando o John,  meu namorado chegar, num vôo da Gol que  prá variar estava atrasadíssimo, levando-me a ficar naquela espera de olhar perdido na movimentação das pessoas que chegavam.  Fico a observar, algumas apressadas passam rápido pelo espaço  de destaque reservado e logo se misturam aos agrupamentos  dos que as esperam, outros nem tanto. Cumprimentos formais, abraços, carinhos efusivos, beijos nos rostos, selinhos nos lábios, comportamentos típicos dos encontros e reencontros...,  uma cena  tirou-me dessa pasmaceira.

 Eis que esse espaço reservado, transforma-se  num púlpito para o que passo a descrever. Uma senhora  aos prantos,  abraça um jovem de forma tal que mal permitia- lhes respirar, tamanho o aperto dos  abraços e  afagos recebidos, como que em  reparo  ao tempo transcorrido do período em que se ausentara da família e do Brasil. No curto longo tempo, que esta mãe permanecera, subvertendo as  convensões dos manuais do bem receber aos que chegam de viagem, esta deu-se ao direito de aos gritos clamar palavras que  dessem conta  de estravasar a  grande emoção desse reencontro.

Me  vi contaminada pela cena,  lágrimas rolaram em minha face, me identifiquei de pronto com aquela emoção, me reportando à saudade que venho sentido de meu filho que se encontra distante, na Alemanha! Só me contendo, ao articular de imediato, uma tentativa de racionalização, a  de que provavelmente, Thiago, me censurária por  não querer  vivenciar em público,  uma situação dessa ordem,   pondo-me a rir discretamente ao  relembrar das possíveis  expressões de contrariedade, que o seu rosto externa e que bem as conheço!...

Mas, voltando a mãe do aeroporto, ela simplesmente congestinou a movimentação dos passageiros que teriam que passar por este bendito púlpito, por alguns minutos ela foi a principal protagonista, todos os olhares estavam em sua direção, um burburinho ao redor se estabeleceu, e de forma muito emotiva, com uma toalhinha rosa pink para  enchugar as lágrimas nos ombros, desempenhou o seu papel de mãe saudosa do filho amado.  A nora com o neto pequeno ao colo e empurrando o carrinho com as  malas, ficaram em segundo plano.

Num impeto  peculiar de mãe, libera  o espaço, saindo apressada,  segurando o filho pela mão como se ainda fosse um menino, caminha na direção de  uma das cadeiras  ao lado da que eu estava, senta-se,  o coloca  no colo e começa a examiná-lo, apalpando-o, como que conferindo os efeitos do tempo no corpo do filho.

Ao mesmo tempo, aos brados cobrava-lhes os setes anos de ausência, o casamento e o nascimento do neto que não participara...,... para enfim  suspirar, como que  em busca de um reordenamento pessoal,  olha-me  com cumplicidade e diz, só falava com ele pela internet, conheci meu netinho pela internet...,  vira-se em direção da nora e da criança, percebendo-as, estende a mão direita tentando tocá-las já sem força e com a voz rouca, balbucia  palavras de receptividade.

O filho, coitado, assustado tenta se desvencilhar do colo da mamãe, vermelho tal qual a camisa que vestia, murmura algumas  palavras de conforto, querendo recompor-se e fugir daquela situação regredida, diante dos  olhos  de quem  a tudo assistia. Aos poucos foram se acalmando,  reassumindo  os seus lugares de contenção,  pegaram as malas  e dirigiram-se para a porta de saida do aeroporto. Eu continuei sentada,  numa postura  reflexiva dessas coisas de mãe, que só  mãe faz!  Não mais  esperando somente, um vôo que se atrasara.