sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Vesti a minha fantasia e sai por aí!...


E não é que fui parar no Rio de Janeiro!...

Sim,  fui passar o carnaval no Rio de Janeiro, foi tudo tão mágico que já estou me planejando para o próximo ano,  na Sapucaí quero estar pois: 

"A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela,
Fez um desembarque fascinante, no maior show da terra"!...

Em consórcio com a Marli Brígida e uma sua amiga Marizelma, alugamos um apartamento, ops!!! Um apertamento em Copacabana. Lá fixamos residência por cinco dias, permitindo-nos estar no metro quadrado mais badalado do Brasil, participando ativamente dos desfiles da "Banda do Bolivar", que no sol da tarde de 17:00 entoava as marchinhas de carnavais passados, hoje tidas pelos adeptos do "politicamente correto" como censuráveis,  "Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é...", e por aí foi...

No sábado, animadíssimas que estávamos, fomos ao desfile do "Bloco O Cordão do Bola Preta", contribuir para a quebra do récorde do bloco com maior número de participantes.
Prá quê Senhor, tanta saliência!...

Após descermos na estação do metrô Cantagalo, tentamos adrentar a Avenida Rio Branco, hum!
Em vinte minutos estávamos de volta de onde não deveríamos ter saido.
Era tanta gente suada e espremida por metro quadrado, que o meu isntinto de sobrevivência falou mais alto, convocando-me a rasgar a fantasia, cair na real de que estar ali naquele momento, não me remeteria a lugar algum,  as lembranças das imagens de infância, quando ouvia  Dona Lina narrar  histórias encantadoras  de carnavais nesse bendito bloco, definitivamente  não cabia, ou seja não me cabia!

Retornar ao  frenesi do calçadão de Copacabana das pessoas em seu ir e vir, de  vários  matizes raciais e condições sociais, trabalhando, ou brincando, dispostos a jogar um pouco de conversa fora, ou não  com muita  certeza,  contribuiram bem mais   para que  eu então  vivesse essa possibilidade. 









Marcas que são difíceis de serem removidas


Era um encontro de celebração do aniversário da matriarca de uma grande família tipicamente brasileira e negra, ali estavam presente , filhas(o), netos(as), bisnetos(as), genro, nora, agregados,  amigas(os) e como de costume,  as palavras davam  o tom nas muitas conversas que se davam em vários grupos ao mesmo tempo e esta corria solta, verbalizadas ora em boca pequena, ora aos berros em esclamações de surpresas risos e gargalhadas!!!...

Num dado momento em que decidiram realizar os devidos registros fotográficos do evento, o sofá da sala era o espaço possível para juntar tantas possibilidades de arrumações parentais, nesse jogo, agora é a vez, dos homens da família! Das mulheres! Eu e mamãe somente! Mamãe com os netos! Mamãe com os bisnetos ainda criança, eis que alguns netos,  jovens,  resgataram no dizer dos mesmos, uma brincadeira comum na casa de vó.  Eleger para fins de pilhagem um dos netos ou netas, geralmente os de menos idade, associando este a um personagem negro caricato, exibido de forma depreciativa pela mídia.

Mal estar instalado pela não aceitação por parte de uns outros da atualização de um jogo discriminatório, num curto espaço de tempo o silêncio se fez presente,  tinha um quê de incômodo, não verbalizado, pois o encontro com o real de um olhar de discriminação racial,  internalizado pelos próprios membros daquela família, roubou qualquer possibilidade de espontaneidade daquele momento em diante, o corte foi fundo na  carne. 

É possivel  que  ali naquele momento, tenham feito contato com suas marcas difíceis de serem removidas, por terem sido imprimidas nas relações primeiras de cada um na própria família, junto aos seus pais, que por sua vez  certamente assim também tenham sido marcados, repetindo sem que tenham consciência um olhar de menos valia.

Lidar  com essas marcas que são difíceis de serem removidas não é simples, pois não há cura para as mesmas uma vez  já instaladas lá na primeira infância, não tem retorno. O que nos é  possível é aprender melhor lidar com esse real,  cuidando-nos constantemente, para melhor  posicionar-nos quando das possíveis repetições, através da aquisição  de "bons curativos" que quando bem feitos  aqui e acular, tem efeitos de  nos fortalecer. É isso.