sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Marcas que são difíceis de serem removidas


Era um encontro de celebração do aniversário da matriarca de uma grande família tipicamente brasileira e negra, ali estavam presente , filhas(o), netos(as), bisnetos(as), genro, nora, agregados,  amigas(os) e como de costume,  as palavras davam  o tom nas muitas conversas que se davam em vários grupos ao mesmo tempo e esta corria solta, verbalizadas ora em boca pequena, ora aos berros em esclamações de surpresas risos e gargalhadas!!!...

Num dado momento em que decidiram realizar os devidos registros fotográficos do evento, o sofá da sala era o espaço possível para juntar tantas possibilidades de arrumações parentais, nesse jogo, agora é a vez, dos homens da família! Das mulheres! Eu e mamãe somente! Mamãe com os netos! Mamãe com os bisnetos ainda criança, eis que alguns netos,  jovens,  resgataram no dizer dos mesmos, uma brincadeira comum na casa de vó.  Eleger para fins de pilhagem um dos netos ou netas, geralmente os de menos idade, associando este a um personagem negro caricato, exibido de forma depreciativa pela mídia.

Mal estar instalado pela não aceitação por parte de uns outros da atualização de um jogo discriminatório, num curto espaço de tempo o silêncio se fez presente,  tinha um quê de incômodo, não verbalizado, pois o encontro com o real de um olhar de discriminação racial,  internalizado pelos próprios membros daquela família, roubou qualquer possibilidade de espontaneidade daquele momento em diante, o corte foi fundo na  carne. 

É possivel  que  ali naquele momento, tenham feito contato com suas marcas difíceis de serem removidas, por terem sido imprimidas nas relações primeiras de cada um na própria família, junto aos seus pais, que por sua vez  certamente assim também tenham sido marcados, repetindo sem que tenham consciência um olhar de menos valia.

Lidar  com essas marcas que são difíceis de serem removidas não é simples, pois não há cura para as mesmas uma vez  já instaladas lá na primeira infância, não tem retorno. O que nos é  possível é aprender melhor lidar com esse real,  cuidando-nos constantemente, para melhor  posicionar-nos quando das possíveis repetições, através da aquisição  de "bons curativos" que quando bem feitos  aqui e acular, tem efeitos de  nos fortalecer. É isso. 



2 comentários:

  1. Sonia,
    Que bom poder aprender a lidar com este real, pois ele se repete e repete. Semana passada uma mulher pomerana me falou que não gostava do seu cabelo loiro pois durante muito tempo, os seus pais a chamavam de cabeça branca quando criança, assim como a seus irmãos. Veja a semelhança, o olhar discriminatório como você diz tão bem...

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    1. Sim Rachel, oportuna essa sua observação que sobre essa mulher pomerana, no sentido de reafirmar que esse olhar é instruturante,é processo na qual todos nós somos submetidos, independentemente de etnia e raça.

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